Resenha: O Diário de Myriam ♥ Myriam Rawick

Foto: Divagações de Leitora

Título: O Diário de Myriam

Autor: Myriam Rawick
Editora: Darkside Books
Páginas: 320

   O Diário de Myriam é um livro aparentemente pequeno, com ilustrações, bom espaçamento e letras grandes, mas não se engane, por mais atrativo que possa parecer, esse livro não é uma leitura fácil.

   "Sei reconhecer as armas, sei reconhecer as bombas, mas, principalmente, sei reconhecer a morte"

    Assim como em O Diário de Anne Frank, temos uma garota contando sua visão da guerra, mas Myriam começa seu relato ainda mais jovem, aos 6 anos e a guerra que ela relata está acontecendo nesse exato momento.

   Apesar da Síria não estar em todos os jornais, aparecendo constantemente na sua televisão ou rádio e não nos atingir diretamente, acompanhar essa criança e sua família nessa guerra cruel te fará no minimo rever seus conceitos e agradecer, ficar feliz pelo que tem, por não presenciar bombas caindo incessantemente,  pela comida na sua mesa, por não ter de sair da própria casa e ir pra um lugar desconhecido deixando tudo para trás e por ter por perto as pessoas que ama enquanto tantos perdem seus filhos, pais, esposas e as próprias vidas em algo sem sentido.

   A Guerra Civil Síria começou com uma série de protestos populares em 26 de janeiro de 2011, os protestantes queriam o fim da ditadura, do governo corrupto e desemprego, mas os protestos progrediram para uma violenta revolta armada em março do mesmo ano.

   A oposição alega lutar para destituir Bashar Al-Assad do poder enquanto o governo alega combater terroristas. O que começou com uma mobilização social exigindo maior liberdade de imprensa, direitos humanos e uma nova legislação evoluiu para muito mais que isso, envolvendo também aspectos religiosos, inclusive, atualmente, o estado islâmico está em guerra com ambas as partes já citadas.

   O número de mortes ultrapassa 450 mil pessoas, a maioria civis e mais de 5 milhões de sírios buscaram refúgio no exterior para fugir dos combates, além de mais de 7 milhões de sírios estarem desalojados, já que muitas cidades foram parcial ou completamente destruídas.

   Nesse pequeno diário acompanhamos Myriam desde o começo, primeiro conhecendo um pouco de sua rotina, o lugar onde mora e que ficará apenas na lembrança, mesmo que a garotinha de seis anos não se de conta disso enquanto escreve sobre seus dias. Temos relatos das ruas, de sua vida tranquila com a família, a escola e depois, os primeiros protestos, parecendo tão distantes para a menina; mais tarde os primeiros tiros e bombas, a impossibilidade de ficar no próprio lar e o medo.

   Myriam nos mostra as pequenas e grandes mudanças que a guerra trouxe, falta de água e luz, as perda de seus pertences, de um lar e de seus familiares, mas acima de tudo nos mostra a solidariedade, a esperança e a vontade de aproveitar cada instante. É impressionante ver a união desse povo, o animo para seguir em frente na adversidade, achava lindo, por exemplo, o esforço das crianças para ir na escola mesmo com todos os riscos e como os dias eram transformados por pequenos atos de solidariedade de uns para com os outros.

   Acompanhar Myriam é acompanhar uma história triste e cruel que nos faz ver de outra forma a guerra. Nós em nossas casas seguras não temos ideia do que ocorre lá fora e a verdade é que nem nos importamos enquanto nos vemos seguros, ao sabermos de algo ficamos tristes, mas não nos afeta realmente, mas ler esse livro é como levar um soco no estomago, é desconfortante.

   Com certeza, é o tipo de livro que nos faz refletir, que nos muda, muda nossa visão e nos torna mais humanos, tira nosso foco das coisas desimportantes e levianas para valorizarmos o que realmente importa, além de fazer com que nos importemos com o que está acontecendo, pelo menos foi o que aconteceu comigo e espero que aconteça com todos que lerem esse livro.

Andy Vieira